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A mostrar mensagens de junho, 2019

Fama & Fortuna #16

Ando eu aqui todo preocupado, e não é que afinal já atingi o sucesso. Sabem o que é o sucesso? É quando se usa muitas palavras em inglês para descrever o que fazemos. A sério. Ou melhor, "seriously"! A malta agora quer é ser "manager", contratar pessoal em "outsourcing" para dar "training", trabalhar em "coworking" com malta de "IT", dar muito "support" ao "corporate client". Se és "advisor", basta seres "top", vestires-te como manda o "dress code", para ganhares a promoção a "coach". Mantém o "mindset", sempre a subir até ser "CEO". Eu achava que era só um carocho que pedia gorjetas na rua. Mas não. Afinal, estou no caminho certo. Sou "tour guide" em "part-time", numa "walking tour" que funciona a "tips", numa "UNESCO Media Arts city". Além disso escrevo "nonsense" para a &quo

Fama & Fortuna #15

É suposto eu atingir a fama e a fortuna durante o Verão? Apesar do Verão estar a meio gás, convenhamos que a moda Primavera-Verão tem a carne toda no assador. Ou melhor, tem a carne toda à mostra... Eu sou noivo, sou bom rapaz, sou feminista, respeito as mulheres, essa treta toda. Mas tenho olhinhos, pelo amor da santa! Como é que é suposto eu concentrar-me? Saio à rua em busca de inspiração e parece que fui jantar à Churrasqueira Angolana, é só peitos e coxinhas bem tostadas... Tudo ali, a chamar a atenção. Vou fazer posts de citações parvas ao Instagram e está tudo a fazer a sua melhor imitação da Ana Malhoa, em fotos na praia em "almost topless". Vou escrever parvoíces no Facebook e está tudo a mudar fotos de perfil para aquela foto que até ficou mal, que chatice, que se vê o mamilo esquerdo sem querer, oh ups, agora já está...! É suposto eu atingir a fama e a fortuna durante o Verão? O que eu vou atingir é o potencial no desenvolvimento da musculatura do membr

Fama & Fortuna #14

O grande inimigo da minha fama e fortuna é a procrastinação. Se eu tivesse um nome do meio era Luís Miguel. Porque o primeiro ia ser Procrastinação. Procrastinação é assim: eu faço muito de graça. Se não fosse a procrastinação: eu fazia pouco a cobrar milhões. Ou pelo menos é isto que diz a minha extremidade esternal de costela capitalista. Eu sou anti-capitalista. Que é como quem diz que não acho nada bom que a gente se ande a explorar uns aos outros. Neste caso, também não sou muito de me explorar a mim próprio. O capitalismo diz que se nós não temos sucesso, é porque somos uns preguiçosos e procrastinadores de cocó. Ou seja, com a procrastinação um gajo hoje é pobre e filho da sua igualmente pobre, mas santa, mãezinha. Se não fosse a procrastinação o registo civil mudava logo, e um gajo seria rico e filho da p***... E do Joe Berardo. Portanto, para o capitalismo a pobreza não é destino, nem condição à nascença. É uma questão de atitude. Isto pode ser surpreendente, ma

Ladrão de Jóias (da peça "Hitchcock")

"Hitchcock" estreia no Sábado (15 de Junho, 21h30, Centro Cívico de Palmeira). É encenada por mim. Esta é a última história. LADRÃO DE JÓIAS (adaptado por Miguel Marado a partir do conto de Philip Ketchum) (Lennie surge do lado esquerdo com uma caixa na mão. Dirige-se ao público, humilde mas seguramente:) Lennie – Olá…! Boas… Sou um ladrão de jóias e vou dar-vos uma pequena lição... Um curso intensivo, se preferirem. Sou um bom ladrão! Roubo os ricos. Não os demasiados ricos, mas ricos que facilmente substituem o que lhes “peço emprestado”. Trabalho sozinho, há doze anos, em várias cidades, sendo que fico três meses em cada visita. Faço três ou quatro “trabalhos” e vendo os despojos na cidade seguinte. É um trabalho normal, ganha-se é um bocado melhor que a média, cerca de 60 mil euros anuais, e não há cá rotinas… Sou cauteloso. Não ando com armas, não precisamos delas e o mais provável é nem as vermos. Também não bebo, a clareza é fundamenta

O Céu como Limite (da peça "Hitchcock")

"Hitchcock" estreia no Sábado (15 de Junho, 21h30, Centro Cívico de Palmeira). É encenada por mim. Esta é a terceira história. O CÉU COMO LIMITE (adaptado por Miguel Marado a partir do conto de Richard Hardwick) (Artur está deitado do lado direito do palco, em posição fetal. Vai recuperando a consciência até que se levanta e olha para si mesmo, todo de branco, sem se aperceber do que se passa. Entra Carolina com o mesmo tipo de indumentária, do lado direito do palco, e diz:) Carolina – Artur? Artur Pascal? És mesmo tu? (Artur concentra-se e foca incrédulo o seu olhar na figura que se aproxima.) Carolina – Caramba, és mesmo tu, Artur! Artur (Confuso.) – Carolina…? Desculpa, mas… Tenho ideia de ter estado no teu funeral, há oito anos… Carolina – Relaxa, Artur! Não tenhas pressa, aqui não há pressas. Como se costuma dizer, tem-se muito tempo para tudo quando se ‘tá morto… Artur (Tocando as bochechas e