Dívida de Gratidão (Peça de Teatro de um minuto)
Sete cadeiras
dispõem-se em semicírculo no palco. Seis delas estão ocupadas; uma, central,
encontra-se vazia. Os ocupantes são skinheads nazis tatuados, de voz e expressão
duras (género é indiferente). Falam animadamente enquanto entra em cena,
da direita de palco, um outro skinhead, de expressão compenetrada. Os restantes
mostram-se desconfortáveis com o atraso, mas resignados. O último segura as
costas da cadeira, de braços tensos.
Último – Vou ter de ir…
Skin-1 – És burro?! Chegas a esta hora a uma reunião
importante, e já vais? A causa não é um brincadeira, amigo!
Último – Não, tu não ‘tás a entender… Isto para mim acabou.
Skin-2 – Oh! Senta mas é o cu, antes que te pregue um remo
nesse puto desses cornos, que te sentas já aí mansinho!
Skin-3 – Ouve lá, calma! (Para o Último:) Mas o que é que se passou?
Último (Procura as
palavras cuidadosamente.) – Pá, os cabrões duns brasileiros salvaram-me a
vida…
Skins-1 – E quê?! (Faz
uma pausa, olhando o último fixamente.) Senta-te aí, relaxa. Podes ter a
certeza que esses animais nunca mais te põem as patas em cima!
Último – Vocês não estão a perceber. Vinha a correr para cá,
nem olhei para a estrada… Os gajos arriscaram o pescoço para me tirar da frente
dum autocarro! Esta palhaçada… (Olha para
si mesmo.) …para mim não dá mais. (Mira
os pensativos parceiros, directamente, pela primeira vez.)
(O Último sai, depois
de conseguir virar a cara e não mais olhar os ex-camaradas de causa, uns enraivecidos,
outros pensativos.)
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